2º Capítulo
SEGUNDO CAPÍTULO
Formação de um Centro Espírita
Num dos “cantos” do espaço infinito, está havendo uma reunião sob o comando do Espírito Benfeitor designado para a orientação daquelas criaturas.
- Foram chamados aqui, pois está na hora de darmos cumprimento ao determinado por nosso Irmão Superior. E para que isso seja feito, é necessário que voluntários se apresentem para a missão de ajudar a alguns que precisam progredir. Devo dizer que pode parecer pequeno visto daqui, mas o Reino de Nosso Pai é composto de pequenos grupos dispostos a dar continuidade ao que Jesus deixou, mas não será tão fácil quanto parece.
“Portanto, não vos iludis. Haverá dificuldades. Primeiro para o desbravamento da implantação. Depois, com a superpopulação que será colocada naquela comunidade. Os primeiros enfrentarão a solidão e os ataques dos “adversários”, porém todos se conhecerão. Os seguintes não conhecerão todos da localidade”.
Houve um murmúrio geral, pois todos (ou a maioria) entenderam a missão e queriam colaborar. Os que ainda não a tinham entendido, com o decorrer da reunião entenderiam. Sabemos que a percepção não é igual a todos os espíritos, mesmo os desencarnados.
- Alguns que farão parte do grupo já se encontram preparados, seguiram antes para a Terra e serão encaminhados à localidade, tão logo surja oportunidade.
“Ficarão aguardando a chegada daqueles que se propuserem a seguir. Devo lembrar que não poderão chegar todos ao mesmo tempo, face à necessidade de continuação do trabalho, como também, da disponibilidade de casais para a oportunidade do renascimento. Haverá tempo para se prepararem para as tarefas concernentes.”
Terminada a reunião, cada qual foi meditar no que ouviu e confabular entre si, além de orar na dependência própria para esse fim. Não devemos esquecer que a missão não era para um espírito de escol, mas para criaturas de boa vontade e necessitadas de saldar débitos que já vinham “rolando” de muitas eras. Esta a razão da discussão e meditação entre si, partícipes dos mesmos delitos.
Os fatos narrados ocorreram entre os anos de 1850 a 1860, aproximadamente, quando alguns dos participantes já estavam encarnados. Outros, ainda não encarnados, tinham próxima sua reencarnação, a fim de voltar ao grupamento precisamente quando florescia a Doutrina Espírita.
Na reunião seguinte, o Dirigente pronunciou a prece que enlevou a todos:
- Bom Pai, que tua luz toque o coração de cada um dos Teus filhos, fazendo-os sentir quão preciosa é a colaboração com os Teus desígnios. Pai de amor e bondade, bem sabemos que ainda não somos merecedores das graças que recebemos; por isso, rogamos coragem para suportar e paciência para o ressarcimento, com as lutas para afastar os escolhos que precisaremos retirar do caminho, já que somos os principais articuladores das nossas trajetórias.
“Assim, Senhor da Vida, que não desanimemos e nos miremos no Divino Modelo, que foi o Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Não será preciso narrar o estado de espírito daquelas criaturas, ao término da oração.
Voltando ao assunto do dia anterior, o Orientador mostrou como num “telão” a situação do momento, aos poucos nos deixando antever o futuro. Basicamente viu-se o local com poucos habitantes, aumentando a população com o nascimento dos seus filhos e descendentes morando na mesma faixa. Isto significava dizer que o local que abrigava um determinado número de pessoas com um “certo conforto” iria se transformar num amontoado com características de superpopulação. Isso sem contar com os parentes de outros estados que viriam morar ali, além das construções feitas por instituições públicas.
- Bem, irmãos amigos, estas são as áreas que contamos ser “aplainadas”. Só nos falta escolher o local propriamente dito para ser erguido o núcleo de operações. Esperamos a indicação, porém, nos parece que o mais indicado e na periferia do povoado, de vez que no centro dele ficará difícil a locomoção de companheiros que, mesmo comprometidos com o grupo, estejam morando em locais diversos.
Assim falando, o Dirigente mostrava um projeto de rua que futuramente seria a principal, mesmo não estando no centro das moradias.
- Como poderemos saber o andamento do projeto? – perguntou um dos participantes.
- Na realidade, o projeto é de organização superior; entretanto, após os ajustes finais será de todos, pois à medida que forem tomadas as participações, nós e vós estaremos intuindo e trabalhando, de modo que a troca será constante. Isto é, os que já estão encarnados serão auxiliados pelos que vão substituí-los, para quando as posições se inverterem – estes encarnados deixarem o mundo dos “vivos”, os que encarnarem estarão sendo apoiados por aqueles que voltarem à Pátria Espiritual. Esta a razão de falarmos que o projeto é de todos. É bem verdade que aqueles que se adiantarem mais não precisarão voltar à carne. Mesmo assim, não deixarão de estar junto na caminhada para o Pai.
- Por que nós? – ouviu-se a pergunta.
- A Humanidade – ponderou o Dirigente – ainda não percebeu que o Universo é uma grande família, dividida em vários lares. Assim haverá entre vos uniões das quais serão dadas oportunidades a companheiros ainda na ignorância e para que haja troca de encarnações com a evolução e o progresso dos mais teimosos em não avançar.
“Aquela família, por exemplo – e mostrou o telão – é parte integrante do projeto e está em um outro país. Dentro de alguns dias juntar-se-á ao grupo do projeto, habitando o local escolhido. Haveremos de possibilitar um motivo para a transferência de país, sem que fira o livre-arbítrio dos componentes.”
- Não ferir o livre-arbítrio dando “um jeitinho” para sua transferência? Não estará sendo tolhido?
- Se levássemos em conta não estar no projeto, seria sim. Acontece que do mesmo modo como estamos reunidos, eles também se propuseram a colaborar. Como suas vindas se faziam prementes e as oportunidades de reencarnação só apareceram naquele país, aceitaram com a promessa de serem trazidos para o local onde vamos trabalhar, confiantes na promessa de Jesus de que os “mansos e humildes herdarão a Terra”.
- Quer dizer então que a utilização do livre-arbítrio se dá na erraticidade?
- Assim o é – confirmou o Dirigente. Aqueles que sabem aproveitá-lo escolhem sempre a “melhor parte”, apesar das dificuldades do caminho.
Dando uma pausa para que todos pudessem olhar melhor o “telão”, o Dirigente continuou a reunião.
- Como a vida nos mostra, em todo lugar há um líder. Líder este que será sempre escolhido de acordo com o momento. Assim é que aquele que tenha avançado mais no campo espiritual provavelmente será um líder espiritual. Outro que avance mais nas artes, será o líder nesta tarefa.
“Mesmo assim, as fases do desenvolvimento dirão a qual, ou quais de vós, deverão seguir antes do outro, para quando o seguinte chegar encontre campo para sua atuação e preparará o campo para o seguinte, Enquanto isso, o que volta estará na ‘escola’ ou acompanhando missões para tomar conhecimento da área do saber em que se considere menos ‘sabedor’, significando que nenhum é maior ou melhor que o outro. Por isso, se o que foi substituído não deixou ‘espaço’ para um tipo de avanço ou melhoria das condições do ambiente, cabe ao que está ‘na vez’ completar o que faltou, mesmo que atrase um pouco a parte que lhe cabe. Dia virá que não mais será necessário completar a parte do outro, pois todos farão suas partes a contento.”
“Esta é a última reunião preparatória em que há a participação da maioria, pois está na hora de vestir o uniforme (corpo) e seguir para a ‘seara do Mestre Jesus’. E enquanto eles estiverem se acostumando com as ‘ferramentas’ (como crianças e adolescentes), nós estaremos ao seu lado apoiando e intuindo a maneira mais correta do uso de suas aptidões. Esta encerrada a última reunião ordinária e que Jesus vos abençoe.”
Tão logo esta história nos foi contada, tivemos a chance de ver a locomoção dos mentores de modo a encaixar todas as pedras do mesmo cenário, sem saber que nós fazíamos parte do grupo seguinte da tarefa, até porque nossa filosofia religiosa e nosso passado não nos avalizavam para tão merecimento. Esquecido estava de que nosso livre-arbítrio pode ser mudado tantas quantas forem as vezes que o trabalho exija essa mudança. É sempre tempo de se aproximar das fontes límpidas, aproveitar-se delas e distribuir aos sedentos da beira do caminho.
Se esta narrativa tiver alguma coincidência com fatos e pessoas conhecidas será mero ‘acaso’, de vez que todos os grupamentos são formados quase que do mesmo modo, mudando-se apenas a finalidade, o local e as pessoas. Se hoje estão em um, amanhã estarão em outro lugar, aprendendo, ensinando e praticando a Boa Nova trazida por Jesus. Aquele ou aquela que não se sentir inclusa num grupo, aproveite a oportunidade. Se não estiver incluso, é hora de procurar um e fazer parte, pois o Mestre Divino conta com todos para apascentar as ovelhas que ainda teimam em ficar desgarradas do Seu rebanho de amor.
Hoje, 75 anos após sua fundação e 150 anos após a primeira reunião no mundo espiritual, a Casa de Antônio de Pádua se transforma em hospital espiritual, razão da sua criação nesta comunidade, que dará abrigo a todos os estropiados, os famintos e os enfermos do mundo espiritual.